Cirurgia ortognática, a fronteira cirúrgica da odontologia

Matérias Por Conexão Médicos - 08/03/23

Cerca de 5% da população brasileira têm problemas que poderiam ser resolvidos com esses procedimentos. Além de técnicas bem-estabelecidas, softwares de planejamento cirúrgico têm contribuído para aprimorar qualidade e segurança.

A cirurgia ortognática é uma técnica adotada para a correção de anomalias dentofaciais que impedem a boa oclusão dentária devido ao posicionamento incorreto dos maxilares. Em geral, são problemas relacionados ao crescimento exagerado dos maxilares (prognatismo) ou seu reverso (retrognatismo), causados por falhas no desenvolvimento facial, herança genética, sequelas de traumas ou, em algumas situações, por cistos e tumores.

Apenas 30% da população brasileira têm uma boa oclusão dentária e posicionamento facial plenamente adequado, enquanto 70% têm algum tipo de alteração na relação entre os dentes dos dois maxilares, a grande maioria passível de tratamento ortodôntico. Mas 5% desse contingente têm alterações que demandam cirurgias corretivas, realizados por cirurgiões bucomaxilofaciais. Atualmente, existem apenas 5 mil profissionais dessa especialidade no Brasil, 2 mil concentrados no Estado de São Paulo.

A cirurgia ortognática é uma abordagem funcional e estética destinada a restaurar a harmonia facial e as funções mastigatória e respiratória. “Os pacientes mais jovens – elegíveis ao procedimento após os 18 anos, quando já concluíram seu desenvolvimento facial – geralmente procuram os cirurgiões com queixas estéticas, visando intervenções que impactam positivamente sua autoestima. A partir da terceira, quarta e quinta década de vida, os principais motivos são as alterações funcionais”, conta o Dr. Daniel Falbo, cirurgião bucomaxilofacial que integra a rede de especialistas dos planos médicos da Amil.

“Particularmente os indivíduos que têm alterações no crescimento da face podem apresentar problemas na articulação temporomandibular (ATM) ou dificuldades respiratórias, podendo resultar na síndrome da apneia obstrutiva do sono. A diminuição dos ossos da face pode fazer com que tenham um menor volume de vias áreas, o que dificulta tanto a respiração no dia a dia como no momento do sono”, explica o Dr. Daniel, lembrando que a apneia do sono pode levar a outras complicações, como problemas cardiológicos, neurológicos e, em casos extremos, a morte.

Segundo ele, é recomendável também que pacientes com dores crônicas na face e com dificuldades respiratórias passem pela avaliação de um cirurgião bucomaxilofacial, porque muitas vezes esses problemas podem não estar relacionados com dores neurológicas ou questões respiratórias propriamente. “Uma desordem da estrutura facial pode estar por trás desses distúrbios”, afirma o Dr. Daniel, destacando que a combinação de expertises dos especialistas soma pontos positivos para os pacientes.

Cirurgias ortognáticas só podem ser indicadas para adolescentes quando ocorrem alterações faciais muito graves que influenciam consideravelmente alguma função ou afetam demasiadamente a autoestima. E só podem ser realizadas mediante consentimento dos familiares, que precisam ser informados de que existe uma grande possibilidade de recidiva e necessidade futura de reoperação. Em suma, são casos raríssimos.

Avanços

Baseada no reposicionamento mecânico dos maxilares a partir de cortes ósseos, a cirurgia ortognática é um procedimento de alta complexidade e já bem-estabelecido, que vem avançando em qualidade e precisão com o aperfeiçoamento das tecnologias de planejamento cirúrgico.

“Antigamente, o diagnóstico era feito por meio de radiografias e o planejamento era manual. Esse quadro mudou com o uso de tomografia computadorizada de última geração, recursos digitais que permitem a fusão de imagens tomográficas com fotos do rosto dos pacientes e impressoras 3D”, informa o Dr. Daniel.

Atualmente, os cirurgiões se valem desses avanços desde o diagnóstico e de um software de planejamento virtual que permite a simulação do procedimento, bem como demonstrar visualmente para o paciente qual deverá ser o resultado da cirurgia. “Esse recurso permite uma maior fidelidade entre o planejamento e a cirurgia executada, além de fornecer impressão 3D das guias cirúrgicas que são usadas durante o procedimento para a reposição dos maxilares”, acrescenta o Dr. Daniel.

No futuro próximo, a tecnologia robótica, com o suporte de sistemas de cortes do osso a laser, deverá ser aplicada na cirurgia ortognática. Cirurgias do gênero já acontecessem na Alemanha. Um dos trunfos dessa novidade será minimizar os riscos das principais complicações associadas às cirurgias, como lesões às estruturas anatômicas nobres e sangramentos.

Em média, a cirurgia ortognática monomaxilar dura em torno de 2 a 2,5 horas e a bimaxilar, de 4 a 5 horas. Na maioria das vezes, trata-se de uma cirurgia única, mas em algumas situações, como no caso de maxilares muito estreitos, são necessários procedimentos em duas etapas.

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