Muito prazer, Dr. Vicente Caroci Ruiz

Perfil Por Conexão Médicos - 29/05/24

Formado em Medicina pela Unesp de Botucatu em 1988, o Dr. Vicente dedicou parte da sua carreira à cirurgia do aparelho digestivo. Mas, após experimentar a acupuntura como paciente, decidiu conhecer a fundo essa e outras técnicas da tradicional medicina chinesa e passou a atuar em uma nova frente: a medicina integrativa. Nesta entrevista, ele conta detalhes dessa trajetória e também revela curiosidades, como o fato de tocar violão e treinar seu inglês conversando com o Chat GPT. Confira.

Por que decidiu ser médico?
Sinto que fui direcionado por vocação. Sempre gostei de saber sobre as patologias e assuntos relacionados. Acho que o fato de ter dois primos mais velhos que eram médicos – um pediatra e um urologista – também me inspirou. 

Em que áreas se especializou?
Primeiro, fiz um estágio com a equipe da Dra. Angelita Gama, na Beneficência Portuguesa, focado em nutrição parenteral e demais aspectos relacionados ao suporte cirúrgico. Depois, decidi me especializar em cirurgia geral em Botucatu. Na sequência, fiquei dois anos e meio na Santa Casa da Misericórdia de Santos especializando-me em cirurgias de emergência relacionadas a traumas, principalmente os associados ao aparelho digestivo.  

Como chegou na acupuntura? 
Durante esse processo de me especializar mais na área cirúrgica, eu tinha em mente voltar para minha cidade natal, Pederneiras, no interior de São Paulo. Acabei voltando mesmo e trabalhei lá por um período. Nessa época, tive um episódio muito forte de hérnia lombar, que praticamente me paralisou. Cheguei a fazer alguns tratamentos não invasivos que não resolveram a situação, mas eu também relutava em fazer cirurgia. Foi aí que reencontrei uma colega que tinha acabado de voltar de um estágio na China, onde ela aprendeu técnicas da medicina chinesa, como a acupuntura. Ela me propôs fazer algumas sessões e eu topei. Na primeira sessão, já tive uns 65% de melhora. Saí de lá andando, sem dor. Acabei fazendo acupuntura e eletroacupuntura com ela. Depois de 15 dias, eu já tinha voltado a operar.

E como aconteceu essa passagem de paciente para médico acupunturista?
Logo depois do meu tratamento, um irmão meu e sua esposa conseguiram parar de fumar com acupuntura. Pensei: ‘isso é interessante, preciso entender mais.’ Nessa época, já estava em tramitação no Brasil o processo que culminou com o reconhecimento da acupuntura como especialidade médica. Procurei alguns colegas que tinham mais conhecimentos sobre o assunto e acabei decidindo me especializar na área na Escola Paulista (Unifesp), com o Dr. Ysao Yamamura, que é um dos papas da acupuntura no Brasil e foi o primeiro a trazer o tema para a universidade. No início, ele encontrou muita resistência, pois há 50 anos a acupuntura era considerada uma espécie de bruxaria. Mas com resiliência e critérios científicos, o Dr. Ysao foi ganhando aceitação – primeiro dos colegas ortopedistas e depois de outras especialidades. Com a bagagem adquirida em sua formação na China, ele montou o curso de Medicina Chinesa e Acupuntura. 

Hoje você se define como? Cirurgião ou acupunturista?
Atualmente me identifico como médico acupunturista ou acupunturiatra, outro nome que se usa. Identifico-me mais com essa especialidade por conta do despertar pelo qual passei. Mas acho a cirurgia fantástica. Gosto muito da área e acredito que é como aprender a andar de bicicleta. No dia em que precisar fazer uma cirurgia, serei capaz de fazê-la. Mas hoje me identifico com o que eu pratico: uma medicina integrativa, direcionada ao envelhecimento saudável e à longevidade, usando técnicas e conhecimentos da medicina chinesa, além de outros recursos, como fitoterapia, suplementos e outras expertises que fui adquirindo ao longo dos anos.

Quais os principais problemas que levam os pacientes a procurá-lo?
Cerca de 80% dos casos são pacientes com queixas de dor – dores articulares, de coluna, cefaleias... Existem também as patologias do aparelho digestivo e problemas relacionados com ansiedade, insônia e crises de pânico. Distúrbios de saúde mental aumentaram muito, particularmente depois da pandemia de Covid-19.  

Que diferenciais considera importantes no atendimento de seus pacientes?
Atenção. As pessoas são muito carentes de atenção, principalmente em cidades grandes como São Paulo. Na consulta, quando você faz perguntas diferentes, como o tipo de sonho que têm ou como é a evacuação e características da fezes, os pacientes já percebem que estão diante de uma proposta diferente de atendimento. Faço uma anamnese muito completa. As pessoas conseguem lembrar de coisas que não costumam aparecer em uma consulta convencional. Recebo pacientes que chegam, relatam o problema, entregam os exames e já querem se levantar da cadeira. Peço para que se acalmem e digo que precisamos conversar mais. É um tipo de abordagem diferente daquela estritamente focada em sintomas. Na minha consulta, o foco é o paciente como um todo. É impossível, por exemplo, fazer um tratamento com acupuntura se você não conhece como é o sono do paciente, sua alimentação, suas restrições, alergias etc. 

Tem algum marco especial em sua carreira?
Ter sido aprovado no vestibular para uma faculdade de medicina pública foi um marco muito importante. Vim de uma formação exclusiva de escola estadual e entrei direto na Medicina com 17 para 18 anos. Estudava de domingo a domingo. Outro divisor na minha vida foi a entrada no mundo da acupuntura, que ocorreu de modo gradativo. Durante algum tempo, fiquei fazendo cirurgias e atendendo acupuntura na minha cidade.

Qual seu segredo para relaxar e manter uma vida saudável?
Não tenho uma resposta única. Mas prezo muito ficar descansando em casa ou na grama para equilibrar as cargas eletromagnéticas do corpo, ir ao Parque do Ibirapuera, andar de bicicleta e fazer uma boa massagem. Também gosto de usar alguns suplementos que ajudam a melhorar minha qualidade de vida. Em casa, tenho ainda meu pronto-socorro de acupuntura, que utilizo em pontos nos quais consigo fazer autoaplicações. Por exemplo, se noto uma dor na coluna que sinaliza algum probleminha, uso alguns pontos no dorso na mão, que são clássicos. Até já fiz aplicação em alguns pontos para tratar uma sinusite olhando no espelho.

Pode contar uma curiosidade sobre você que poucos conhecem?
Eu toco violão. Além de gostar do instrumento, o violão dá agilidade nos dedos, o que ajuda no manejo das agulhas. Também gosto de treinar meu inglês conversando com o Chat GPT. Meus pacientes sempre perguntam sobre a memória e o que fazer para conservá-la. Eu os incentivo sempre a falar mais de uma língua. Quanto mais línguas você souber, mais áreas do cérebro vai preservar ativas no processo de envelhecimento.

Tem um filme preferido? 
Gosto muito de documentários. Mas tem filmes que me apaixonaram, como o Hair. A mensagem de paz daquela época é muito interessante. Ao mesmo tempo, tem a contradição de fuga da realidade por meio do uso das drogas. Se você pensar, as mensagens políticas do filme se aplicam aos dias de hoje, um mundo atravessado por guerras feitas em nome do dinheiro.

E livro?
As tramas verídicas me interessam, mas gosto também de ficção científica ou enredos fantásticos. Um dos livros que mais me marcaram foi o Operação Cavalo de Troia, do J. J. Benítez, que acabou virando uma saga. A obra fala de um experimento ficcional da Nasa, no qual um astronauta é teletransportado para a época de Jesus Cristo. O objetivo da missão era desmascarar o cristianismo, fazendo-o ser percebido como uma invenção da religião. Mas o personagem acaba acompanhando Jesus e se choca ao descobrir o poder daquele homem. A obra foi tão lida que virou uma série com nove livros.

Que tipo de música prefere?
Sou eclético. Under Pressure, do Queen, é fantástica. Depois vou para o U2, cujos primeiros álbuns são magistrais. With or Without You virou um hino. Não tem um show em que a banda não toque essa música. Aprecio as letras do U2, como da música One, que nos faz pensar sobre inclusão. Mas também gosto de Guns N’ Roses, Bon Jovi… A lista é grande. Também tenho que citar Elvis Presley e Frank Sinatra. 

Qual foi sua melhor viagem?
A lista é extensa, mas vou destacar uma pela experiência de vida que me deu. Foi uma viagem vinculada ao Projeto Rondon, que fiz na época da faculdade. Fui para Humaitá, às margens do Rio Madeira, no Estado do Amazonas. A experiência foi tão interessante que supera todas as outras viagens que fiz. Fiquei 45 dias em uma unidade que reunia jovens de várias universidades e atuávamos com equipes multidisciplinares. O que aprendemos lá não tem preço. Foram os 45 dias mais úteis da minha vida. Pude ver na prática o que é a Transamazônica e atender populações ribeirinhas e indígenas vivendo em aldeias tradicionais. 

Quais características mais admira em uma pessoa?
Principalmente honestidade, sinceridade e o real conhecimento do que faz. Só progredimos quando estamos do lado de pessoas que sabem tanto ou mais que nós. Sempre procurei estar rodeado de pessoas que sabem mais do que eu. Por isso, não paro de fazer cursos e novas especializações. Acabei de fazer uma pós em Nutrologia.

Qual característica própria mais valoriza?
Perseverança e foco. Não fossem elas, não conseguiria cuidar bem da minha vida pessoal e profissional.

Tem algum ídolo?
Meu pai. Essas características de ser estudioso, sincero e honesto, devo muito a ele. Ele faleceu cedo, aos 69 anos, quando eu estava no quinto ano da faculdade. Mas ele conseguiu formar sete filhos. Na época dele, isso não era fácil. 

Se não fosse médico seria o quê?
Seria médico mesmo. Só pensei em ser outra coisa quando era criança. Meu sonho era ser astronauta da Nasa. Nasci em meio à corrida espacial, né? Víamos os astronautas na TV e meus pais comentavam sobre as façanhas. Lembro também de séries como Perdidos no Espaço. Hoje penso como eram pobres aquelas cenas. Mas quando criança aquele mundo era fantástico. 

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