Comportamentos excessivos crescem entre jovens e adolescentes

Matérias Por Conexão Médicos - 19/01/24

Mais frequente nesse público, a dependência de internet ou digital coloca em risco a saúde física e emocional. O problema foi incluído recentemente nos manuais internacionais de saúde. 

Na chamada Era da Compulsão, marcada por comportamentos excessivos, como classifica a Psiquiatria, jovens e adolescentes estão entre os mais impactados. Indo além do uso de drogas e álcool, tais comportamentos podem estar associados a quaisquer atividades vinculadas ao prazer, potencializadas pelo uso cada vez mais frequente dos dispositivos de comunicação digital. Ou seja, o excesso de tempo de tela para obtenção de qualquer tipo de satisfação imediata tornou-se um problema de saúde pública que afeta especialmente os mais jovens.

Nesse cenário, destaca-se a dependência de internet ou digital, caracterizada pelo uso excessivo de computadores, smartphones e tablets e pelo comportamento impulsivo e compulsivo em relação à internet e às redes sociais.

“Para pessoas de toda as idades, esse tipo de dependência pode ter efeitos negativos, como perda de produtividade, isolamento social, problemas de saúde mental e física e dificuldade em manter relacionamentos saudáveis. Mas a dependência de internet ou digital pode ser especialmente problemática para crianças e adolescentes, um público mais sujeito a usar esse tipo de tecnologia de maneira impulsiva e se envolver em comportamentos de risco, como bullying online e contatos indevidos com estranhos”, diz o Dr. Marcelo Piquet Carneiro, psiquiatra da rede credenciada Amil, diretor médico da Clínica Espaço Village e pesquisador no Instituto de Psiquiatria de Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Outro fenômeno observado é o expressivo aumento do número de jovens viciados em apostas online. “Há uma quantidade enorme de pessoas que estão perdendo o controle e dinheiro diante desses tipos de jogos”, pontua o Dr. Marcelo.

Identificando o problema

A linha que divide o uso saudável e anormal das telas é tênue, semelhante à situação entre uma pessoa que está bebendo muito e o alcoolismo. “Mas é possível diagnosticar a dependência da internet ou digital com base em avaliação clínica, uma vez que já existem critérios objetivos, que variam de acordo com o sistema de classificação utilizado”, informa o Dr. Marcelo. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, a dependência da internet é classificada como um transtorno do controle do impulso. Já na Classificação Internacional de Doenças – CID-11 é classificada como um transtorno relacionado ao uso de jogos eletrônicos e internet.

Os especialistas buscam observar se o uso da internet e dos meios digitais causa problemas funcionais na vida do paciente, levando em conta aspectos da sua rotina: 

  • Ele passa mais tempo navegando na internet do que fazendo outras atividades? 
  • Sente necessidade de estar conectado o tempo todo?
  • Fica ansioso quando não consegue acessar a internet?
  • Tem dificuldade em controlar o tempo que passa na internet?
  • Tem problemas para dormir por causa do uso da internet?
  • Negligencia responsabilidades pessoais, profissionais ou escolares por causa do uso da internet?
  • Prefere se comunicar online em vez de pessoalmente?
  • Usa a internet para evitar emoções desagradáveis ou problemas pessoais?
  • Perde a noção do tempo quando está navegando na internet?
  • Tem problemas de relacionamento ou isolamento social por causa do uso da internet?

“Essas perguntas podem ajudar a identificar sinais de dependência, mas é importante lembrar que nem todo uso é problemático. A dependência é caracterizada pelo uso excessivo e prejudicial, sendo preciso avaliar a frequência e a gravidade dos sintomas, bem como os prejuízos causados”, ressalta o Dr. Marcelo, lembrando que os pais devem monitorar o uso que seus filhos fazem da internet e das redes sociais e falar abertamente sobre seus perigos potenciais. “Além disso, no diagnóstico, é importante considerar outros fatores que possam estar contribuindo para os sintomas, como transtornos de ansiedade e depressão”, acrescenta ele.  

O apoio de profissional especializado é fundamental para superar esse problema a partir do desenvolvimento de um plano individualizado de tratamento orientado a uma moldagem do comportamento dos pacientes. Com suporte de terapia comportamental e/ou cognitivo-comportamental, é ensinado quais são os gatilhos da dependência e são desenvolvidas habilidades para controlar o impulso de acesso à internet. “O caso dos jogos é ainda mais parecido com o alcoolismo. O paciente não pode voltar a jogar achando que tem o controle", frisa o Dr. Marcelo. 

Em alguns casos, podem ser prescritos medicamentos para ajudar a controlar sintomas associados à dependência da internet, como ansiedade e depressão. Também podem ser úteis grupos de apoio, nos quais pacientes discutem em ambientes seguros seus problemas.

Para evitar ou controlar a dependência de internet ou digital, recomenda-se ainda desligar os dispositivos digitais em horários específicos do dia, praticar atividade física e ter hobbies que não envolvam o uso da internet, estabelecer limites de tempo para o uso da internet e buscar atividades sociais off-line. 

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