Doutor, como vai sua saúde mental?

Matérias Por Conexão Médicos - 19/01/24

Diagnósticos de transtornos mentais têm crescido de maneira vertiginosa, e os profissionais de saúde, particularmente médicos, estão entre os grupos mais expostos aos riscos de desenvolver problemas do gênero.

O cuidado da saúde mental, foco da campanha do Janeiro Branco, é um tema urgente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas que sofrem com problemas mentais e emocionais permanecem sem nenhum tipo de tratamento adequado. Em meio a uma espécie pandemia de transtornos mentais que a crise da Covid-19 colocou às claras, médicos de todas as especialidades precisam estar atentos não apenas a sintomas de seus pacientes para dar o encaminhamento correto, mas também questionarem-se sobre os cuidados com a própria saúde mental.
 

Profissionais da saúde, particularmente os médicos, estão entre os mais expostos aos riscos de desenvolvimento de transtornos mentais, praticamente tornando a profissão um fator de risco. “Por exemplo, proporcionalmente à população como um todo, temos mais alcoolismo entre os médicos e maiores índices de depressão e suicídio. Entre profissionais de saúde de modo geral, os índices de divórcio também são maiores, fato que se explica em parte pelas rotinas de trabalho muitas vezes longas, extenuantes e bombardeadas por emoções relacionadas ao sofrimento e morte das pessoas das quais cuidam,” afirma o Dr. Marcelo Piquet Carneiro, psiquiatra da rede credenciada Amil, diretor médico da Clínica Espaço Village e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Também é cada vez mais comum médicos com insônia, comprando demais ou viciados em jogos, independentemente de serem profissionais em início ou topo de carreira”, acrescenta ele, que tem os médicos entre 30% a 40% dos seus pacientes. 

Dentro da medicina existem especialidades ainda mais expostas. “Os anestesistas, por exemplo, têm mais problemas com dependência de álcool e outras drogas do que profissionais de outras especialidades. Estudos apontam fatores como ficar horas e horas dentro do centro cirúrgico, além da facilidade de acesso a uma série de substâncias químicas, como fentanil e propofol”, detalha o Dr. Marcelo.

Para profissionais de saúde e pessoas de forma geral, ele recomenda uma estratégia combinada para cuidar da saúde mental: investir na qualidade das relações pessoais, visando fortalecer o círculo social; e praticar frequentemente exercícios físicos, nossa melhor fonte de resistência ao estresse. “Isso é bom não apenas para a prevenção de transtornos, mas também para o tratamento de patologias como depressão e ansiedade”, frisa o Dr. Marcelo, lembrando outro dado curioso das pesquisas científicas: pessoas que têm animais de estimação têm menos problemas de saúde mental e tendem a viver mais tempo do que as que não têm.

Segundo ele, é importante que os médicos estejam preparados para identificar os sinais dos transtornos mentais nos seus pacientes e neles próprios. “Não é incomum que esses sinais sejam negligenciados ou confundidos com sintomas de outras doenças, como as autoimunes e as fibromialgias”, exemplifica. 

No caso dos médicos especificamente, Dr. Marcelo recomenda que prestem atenção aos seguintes sinais:

  • Desânimo extremo
  • Pessimismo exagerado
  • Perda de apetite
  • Insônia
  • Pensamento lentificado
  • Falta de energia ao acordar
  • Abuso de álcool, tabaco e outras substâncias, particularmente psicoestimulantes

Diante desses ou quaisquer outros sintomas suspeitos, a recomendação é procurar um colega psiquiatra de sua confiança. 

Posts relacionados

Ver mais
.