Hipertensão: a Ciência avança, mas a incidência também

Matérias Por Conexão Médicos - 29/03/23

Novas drogas e inúmeros estudos têm contribuído para aprimorar o diagnóstico e tratamento da doença. Mas convencer o paciente a aderir ao tratamento e adotar hábitos de vida mais saudáveis continua sendo fundamental.
 

A hipertensão arterial é uma das principais razões que levam as pessoas ao consultório dos cardiologistas. Sua incidência tem aumentado, passando de 22,6% em 2006 para 26,3% em 2021, segundo dados do Ministério da Saúde. Nesse mesmo ano, a estimativa da Sociedade Brasileira da Cardiologia era de 30% de hipertensos na população brasileira. Fator de risco para o desenvolvimento de doenças como as cardiovasculares e renais, o problema mereceu até uma data no calendário da saúde: o Dia Nacional de Combate e Prevenção à Hipertensão, celebrado em 26 de abril.


O estilo de vida da população, marcado por má alimentação, sedentarismo e obesidade/sobrepeso explica o aumento dos números, mas há também um índice maior de diagnósticos. “Hoje os critérios estão bem definidos: nível pressórico igual ou superior a 140/ 90 mmHg é classificado como hipertensão. Mas todo paciente que apresenta índice 135/85 mmHg na medição do consultório precisa ser investigado com a realização do MAPA/MRPA/AMPA (Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial) para definir se é ou não hipertenso”, afirma o Dr. Carlos Japhet, cardiologista responsável pela gestão da Cardiologia do Hospital Santa Joana Recife, da rede Americas. Ele destaca que as diretrizes atuais são baseadas em estudos científicos cada vez mais abundantes na área. Publicação recente, por exemplo, orientou que paciente diabético deve ter como meta pressórica niveis inferiores a 130/80 mmHg e que, no caso de níveis superiores, já deve ser submetido a tratamento (The new clinical practice guidelines from the AAFP).


A tecnologia tem sido uma aliada. Já se tornou comum ter em casa um equipamento de aferição digital da pressão arterial que permite que o paciente tenha ciência de seus índices e há o monitoramento por aplicativos que encaminham os resultados diretamente para o médico.

 
Tratamento


O conhecimento gerado nos estudos científicos e o desenvolvimento de novas drogas têm aprimorado o tratamento. “A hipertensão é uma das áreas de maior evolução de medicações, assim como o colesterol e o diabetes. Existe um arsenal de opções validadas por estudos que podem ser usados para pacientes que têm mais de uma patologia e com muito pouco efeito colateral”, observa o Dr. Japhet.  


São comprimidos que combinam duas ou até três drogas e podem tratar a pressão e outras comorbidades, como colesterol elevado, diabetes ou obesidade. “Geralmente, o paciente, além de hipertenso, costuma ser pré-diabético, ter colesterol alto etc. Medicamentos que tratam conjuntamente mais de um problema ajudam muito na adesão ao tratamento, evitando um número maior de comprimidos que muitas vezes faz o paciente abandonar o tratamento”, aponta o cardiologista. 


As novas medicações também são de diversos tipos: bloqueio de enzimas e dos canais de cálcio, vasodilatação e estatinas mais potentes, associados ou não a diuréticos, drogas mais antigas que, em conjunto com outras, otimizam os resultados e facilitam a vida do paciente.  “É uma evolução constante. As novidades costumam chegar ao mercado com custo mais elevado, mas é questão de tempo para se tornarem mais acessíveis”, afirma o Dr. Japhet.  
Outro importante progresso é o estabelecimento de critérios e pontuações que permitem ao médico avaliar conjuntamente diversos fatores, como hipertensão, diabetes, colesterol, tabagismo e obesidade, para classificar o paciente em alto, médio ou baixo risco para problemas cardiovasculares. Assim, são definidas metas e abordagem para o controle de cada caso. 


Apesar do avanço medicamentoso e tecnológico, continua sendo fundamental conscientizar o paciente sobre a importância de modificação dos hábitos de vida.  “Se conseguimos convencê-lo a fazer atividade física, adotar alimentação balanceada, deixar de fumar e reduzir o consumo de álcool – que tem aumentado na população em geral e em especial nos mais jovens –, já verificaremos resultados positivos”, diz o Dr. Japhet.


Abordagem multidisciplinar


Tratar a hipertensão geralmente envolve mais de uma especialidade, já que o mal pode ser originado de problemas na tireoide, nos rins ou de um tumor. Daí ser fundamental identificar as causas para estabelecer o tratamento adequado, especialmente em jovens. “Tive recentemente um caso em que não se descobria o motivo da elevação da pressão arterial. Depois de uma criteriosa avaliação, descobri que a causa era uma obstrução na artéria renal que foi desobstruída e acabou com a hipertensão, sem necessidade de remédio. Perdi uma paciente, mas ganhei uma amiga”, conta o Dr. Japhet. Nestes casos, é necessário o envolvimento de outros especialistas, como endocrinologista ou nefrologista. 


Mesmo na hipertensão primária o suporte multidisciplinar é importante. O nutricionista pode adequar o cardápio ao gosto do paciente e, muitas vezes, o suporte da psicologia se mostra essencial. Na visão do Dr. Carlos Japhet, é fundamental trabalhar em conjunto com uma equipe multidisciplinar. Mas há outro ponto que ele considera igualmente indispensável: acolher e estar próximo do paciente para envolvê-lo e fazê-lo aderir ao tratamento.    
 

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