Incontinência urinária feminina: como tratar?

Matérias Por Conexão Médicos - 08/03/23

Dificuldade de reter a urina é um problema comum entre as mulheres, principalmente na pré e pós-menopausa. Estudos científicos avaliam e propõem novas abordagens terapêuticas.

 

A incontinência urinária feminina é um mal que afeta as mulheres de várias formas: desconforto com a perda da urina, transtornos com a troca constante de absorventes, isolamento social por medo de que outras pessoas percebam e impactos emocionais. Além disso, se não tratada, pode provocar infecções na pele da vulva pelo contato constante com a urina.

“Trata-se de um tema relevante, que exige atenção dos médicos, especialmente dos ginecologistas. É importante questionar as pacientes sobre o problema, pois, muitas vezes, as mulheres não informam o profissional por constrangimento ou por acharem que é normal quando a perda não é significativa”, afirma a Dra. Ana Silvia Seki, uroginecologista da rede Amil e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A incidência é maior no período ligado à menopausa, atingindo 55% das mulheres no pós-menopausa e 20% das que estão na pré-menopausa.

A identificação das causas e do tipo de incontinência norteará a abordagem terapêutica. Daí a importância de uma boa anamnese para avaliar a quantidade e circunstâncias da incontinência, que pode ser por esforço, por urgência de urinar ou do tipo insensível, quando a perda de urina ocorre sem que a mulher perceba e só identificada pela umidade da roupa íntima. “Existe também a perda na relação sexual, que é extremamente constrangedora e pode gerar problemas na intimidade do casal. Também é uma situação que dificilmente a mulher relata”, observa a Dra. Ana.

O diagnóstico pode ser complementado com o estudo urodinâmico, que avalia bexiga, uretra, quantidade e condições em que ocorre a perda, ajudando na indicação do tratamento.

Algumas condições aumentam o risco de surgimento do problema: obesidade, multiparidade (vários partos podem causar danos no assoalho pélvico), tabagismo, radioterapia na região pélvica ou até danos na coluna que afetam o sistema neurológico de controle da urina.

Independentemente da causa, a correção de fatores comportamentais, como a ingestão correta de água e esvaziamento completo da bexiga após as micções, por exemplo, já promovem uma boa melhora. A quantidade diária ideal é avaliada de acordo com a cor da urina, que deve ser amarela clara, ou seja, nem muito amarelada nem sem cor (exceto em pacientes com problemas renais). Uma pesquisa realizada pela Dra. Ana e sua equipe na Unifesp também mostrou que parar de ingerir líquidos duas horas antes de dormir reduz e até elimina as idas constantes ao banheiro durante a noite devido à urgência de urinar.

Tratamentos e novos estudos

Para a correção da perda de urina por esforço, a abordagem comum até recentemente era a colocação de sling de uretra média, por meio de um procedimento minimamente invasivo. Apesar de um índice de sucesso de 80%, o método foi colocado em xeque com o surgimento de casos de perfuração de bexiga, dor vaginal e na relação sexual, entre outras complicações associadas ao dispositivo. As telas vaginais e os slings foram proibidos nos Estados Unidos e em outros países. No Brasil, continua liberado, mas em razão dos acontecimentos que levaram à proibição em outros países e de questões jurídicas, os médicos brasileiros têm utilizado as telas com mais precaução e algumas vezes optado por cirurgias tradicionais que suspendem a bexiga e a parede vaginal.

De acordo com a Dra. Ana, a fisioterapia é essencial no tratamento dos casos de incontinência e deve ser orientada por especialista, para trabalhar a musculatura e estimular a contração do assoalho pélvico com equipamentos apropriados e exercícios, que devem ser sempre repetidos em casa. “Os resultados são muito bons, mas em casos de perda maior de urina pode não resolver 100% o problema”, afirma a médica, destacando que a cirurgia é reservada para quem não obteve melhora com os outros métodos terapêuticos.

Novas abordagens que complementem o rol de tratamentos da incontinência urinária feminina estão sendo estudadas. A equipe da Dra. Ana publicou recentemente um estudo randomizado sobre o efeito de aplicação de energia por laser e radiofrequência no assoalho pélvico em pacientes com incontinência urinária de esforço (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35254473/). O resultado mostrou que, em um ano de aplicações, houve melhora de 70% na qualidade de vida das mulheres devido à redução de perda de urina. Em casos de perda por esforço leve, quem recebeu as aplicações teve 94% de melhora utilizando laser e 86% utilizando radiofrequência. “É uma possibilidade de tratamento para ser utilizada em conjunto com outros métodos”, aponta a Dra. Ana, que está envolvida em outro estudo sobre o tema, desta vez abordando bexiga hiperativa e urgência de urinar.

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