As mulheres estão mais suscetíveis às doenças cardiovasculares?

Matérias Por Conexão Médicos - 29/03/23

A resposta é sim. Além das mudanças socioculturais que as igualaram às condições adversas clássicas dos homens, elas estão sujeitas a aspectos específicos e novos fatores de risco identificados por diversos estudos
 

A saúde cardiovascular da mulher exige atenção redobrada. Mulheres têm 50% de probabilidade de infarto maior quando comparadas aos homens, apontam dados do Ministério da Saúde. O Framingham Heart Study mostrou que, há cinco anos, a proporção de infartos do miocárdio era de oito casos em homens para dois em mulheres. Hoje, estima-se que a relação seja igual para ambos os sexos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares causam atualmente 1/3 das mortes de mulheres no mundo, totalizando aproximadamente 8,5 milhões de óbitos por ano. 


O aumento de eventos cardiovasculares e mortes no universo feminino é justificado pela mudança cultural e social do papel da mulher, que foi ao mercado de trabalho, passou a fazer jornada dupla com responsabilidades em casa e no trabalho etc. “A mulher igualou condições adversas clássicas dos homens, como a má alimentação, estresse, sobrepeso, tabagismo, sedentarismo e maior consumo de bebida alcoólica”, descreve o Dr. Carlos Japhet, médico especializado em cardiologia da mulher e gravidez de alto risco e gestor da Cardiologia do Hospital Santa Joana Recife. 


Além dos riscos adquiridos pela rotina atribulada e os associados à herança genética, as mulheres estão sujeitas a condições específicas relacionadas com suas características fisiológicas. “A síndrome do ovário policístico, as mudanças hormonais do climatério e da menopausa que acabam com a proteção natural ao coração proporcionada pelo estrógeno, além do controverso, mas comprovado risco da reposição hormonal quando realizada sem acompanhamento cardiológico e por um longo período, são os novos riscos identificados por estudos, concluindo que mulheres estão mais suscetíveis aos males cardiovasculares, como infarto, doença coronariana e insuficiência cardíaca”, explica o Dr. Carlos Japhet. 


Segundo ele, são fatores que devem ser atentados pelos profissionais de saúde em geral para conscientização, prevenção e encaminhamento da paciente a um cardiologista quando necessário. “O processo de diagnóstico é diferenciado. É preciso estar disposto a ouvir o que elas têm a dizer. Muitas vezes, uma boa conversa já ajuda. Nunca é ‘besteira de mulher’. Também é preciso conhecer as características e alterações fisiológicas da mulher”, acrescenta ele.

 
O acompanhamento cardiológico se faz necessário especialmente na menopausa, quando aumenta a incidência de doença cardiovascular. Também deve ser encaminhada para um especialista, independentemente da idade, a mulher que apresentar pressão arterial igual ou superior a 135/85mmHg. “A hipertensão tem acontecido de forma cada vez mais precoce”, adverte o médico. Avaliação cardiológica, em qualquer fase da vida, é fundamental, ainda, para mulheres diabéticas e/ou com índices elevados de colesterol, triglicérides, creatinina e ureia. 


O tema da saúde cardiológica da mulher vem sendo foco de ações especiais. Em 2022, por exemplo, foi criado o Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares nas Mulheres (14 de maio). E este ano a Sociedade Brasileira de Cardiologia, pelo seu Departamento de Cardiologia da Mulher, promoverá nos dias 19 e 20 de maio o I Congresso Brasileiro de Cardiologia da Mulher, em São Paulo.


Gravidez com alto risco cardiológico


O cuidado cardiovascular durante a gestação é especialmente necessário em certas condições. Mulheres hipertensas crônicas antes ou após a gravidez, assim como as que têm fatores de risco para o desenvolvimento de pré-eclâmpsia têm maior possibilidade e precisam de acompanhamento cardiológico. “Hoje temos mapeadas condições que aumentam a incidência do problema e já podemos preveni-los com a administração de cálcio e ácido acetilsalicílico. Exames de Doppler no primeiro trimestre também permitem identificar o alto risco da gravidez por pré-eclâmpsia”, observa o Dr. Japhet.  


Além disso, se enquadram no alto risco e precisam de atenção específica da cardiologia as gestantes com trombofilia e diabetes associada ou não ao sobrepeso/obesidade, prévia ou gestacional (que predispõe ao desenvolvimento do diabetes após a gravidez). “É importante que obstetras e médicos em geral saibam identificar esses fatores de risco para encaminhar as futuras mamães ao acompanhamento adequado”, sinaliza o especialista.  


O tratamento da gestante de alto risco deve envolver equipe multidisciplinar, incluindo, além do obstetra e do cardiologista, neonatologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e anestesista. “Trabalhando em conjunto, podemos oferecer o melhor e mais completo suporte para mãe e bebê, reduzindo riscos e evitando eventos adversos”, finaliza o Dr. Carlos Japhet.
 

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