Olho seco, um mal da modernidade

Matérias Por Conexão Médicos - 09/03/23

Maior exposição às telas de computadores e celulares é um dos fatores que têm levado ao aumento de casos dessa síndrome que afeta a lubrificação dos olhos. Ao fazer mais uso desses recursos, médicos também precisam se prevenir.

Caracterizada pela diminuição da produção da lágrima ou pelo excesso de evaporação que impede a lubrificação dos olhos, a síndrome do olho seco tornou-se ainda mais prevalente durante a pandemia, quando as pessoas passaram a ficar ainda mais tempo fixadas nas telas de computadores e celulares. Conscientizar sobre esse problema que, segundo as estimativas, afeta cerca de 20% da população mundial, é foco do Julho Turquesa, campanha realizada no Brasil desde 2020 pela Associação dos Portadores de Olho Seco (APOS) em parceria com a Tear Film Ocular Surface Society (TFOS).

Além da exposição às telas, outras causas do olho seco são: envelhecimento; menopausa; alterações hormonais; doenças reumatológicas; uso de medicações hipertensivas, antialérgicas e ansiolíticas; cirurgias de catarata ou de correção de grau; e inflamações na pálpebra, como a blefarite.

“O olho seco é considerado um mal da modernidade”, afirma a cirurgiã oftalmológica Dra. Myrna Serapião dos Santos, médica da rede Amil. Segundo ela, as telas, cada vez mais em uso, propiciam um gatilho para a síndrome: as pessoas param de piscar. “Quando uma pessoa fica com os olhos fixos em uma atividade visual, reduz a taxa do piscar. Enquanto normalmente piscamos em segundos, passamos a piscar a intervalos mais longos. Isso prejudica a formação de lágrimas e favorece sua evaporação, o que piora em ambientes com ar-condicionado”, detalha.

Sintomas e tratamento

Os principais sintomas do olho seco são sensação de areia nos olhos, ardor, vermelhidão ocular, vista embaçada e cansaço visual.

Nos casos mais leves, trata-se de uma sintomatologia desconfortável que afeta a qualidade de vida das pessoas. Nos casos moderados, o paciente pode evoluir para um comprometimento da córnea, como lesões que podem levar até ao surgimento de dor neuropática corneana. Mais incomuns, os casos graves, muitas vezes associados a doenças reumatológicas, como artrite reumatoide, síndrome de Sjögren e lúpus, podem resultar no comprometimento da visão.

Os casos mais leves são resolvidos com lágrimas artificiais e mudanças de hábito, como diminuir a exposição às telas, piscar constantemente e adotar intervalos de parada durante o uso de computadores e celulares. “Intervenções dietéticas podem trazer benefícios, como aumentar o consumo de ômega 3, que favorece a formação de lágrimas de melhor qualidade”, afirma a Dra. Myrna.

Os quadros moderados exigem o uso de medicações específicas, como lágrimas artificiais sem conservantes, anti-inflamatórios na forma de colírio, e, em alguns casos, podem ser aplicados tratamentos termopulsáteis.

Para situações mais graves é prescrito colírio de soro autólogo (o chamado colírio de sangue) para tratar córneas muito comprometidas e também tratamentos cirúrgicos, envolvendo a colocação de plugs no canal lacrimal ou de lentes de contato especiais ou enxerto de glândulas salivares extraídas da boca para os olhos.

A Dra. Myrna observa que, assim como grupos crescentes da população, os próprios médicos precisam estar atentos aos riscos da síndrome do olho seco. “Trabalhamos cada vez mais usando telas, seja atendendo pacientes, preparando aulas ou apresentações, nos atualizando. Muitas vezes, essas tarefas são feitas em ambientes com ar-condicionado, o que só agrava a situação. Portanto, assim como as demais pessoas, também precisamos tomar cuidado para evitar esse mal”.

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