Pandemia impõe exigências extremas aos profissionais de saúde

Matérias Por Conexão Médicos - 08/03/23

Mais devastadora que a anterior, com aumento assustador no número de casos e de mortes, a segunda onda da pandemia da COVID -19 está causando um colapso nos sistemas de saúde do país. Faltam leitos e, às vezes, também equipamentos e insumos. É um contexto perverso que vem impactando também os profissionais de saúde, principalmente os que atuam na linha de frente. Vindos de um ano de trabalho intenso e desgastante, enfrentam agora o tsunami da segunda onda. Muitos, porém estão no limite, e o que se observa é um forte crescimento do número de casos de estresse, Burnout e outros problemas de saúde mental entre esse grupo.

A segunda onda da pandemia era prevista pelos especialistas, mas não nesta proporção. “No ano passado, com medidas preventivas, conseguimos evitar altos picos de casos. Mas o relaxamento dessas medidas nas festas de fim de ano e no Carnaval está sendo sentido agora. Piorando o cenário, temos novas cepas do vírus, algumas mais transmissíveis, o que aumenta o ritmo de contaminação”, afirma a infectologista Dra. Patrícia Rady Müller, infectologista e mestre em Ciências pela Unifesp e pesquisadora clínica da Casa da Pesquisa do CRT Aids de São Paulo.

Esgotamento mental

Enquanto a pandemia não é controlada, os profissionais de saúde têm de encarar demandas inesgotáveis, piorando um problema crescente antes mesmo da atual crise sanitária. O Burnout, síndrome causada pela exaustão extrema originada da atividade profissional, já acometia muitos, fruto do estresse e pressão psicológica, muitas vezes combinada com longas jornadas de trabalho. “Lidamos com muitas demandas, cobranças e, agora, também com muita incerteza. Muitos profissionais da linha de frente estão isolados dos familiares por receio de contaminá-los. Além disso, existe o medo de se contaminarem, a preocupação com os colegas doentes, a tristeza pelos pacientes e colegas que perderam. É extremamente desgastante”, contextualiza a Dra. Patrícia. Ela lembra que em alguns lugares do país há médicos que ainda não foram vacinados por não terem a vacina disponível em seus hospitais ou não estarem na faixa etária do programa do governo e que trabalham como cirurgiões ou em pronto-socorro, o que também aumenta o nível de estresse.

A tensão e o estresse atingem também profissionais indiretamente envolvidos, seja pela procura de familiares, amigos e pacientes em busca de esclarecimentos, seja pela necessidade de se adaptar a novas formas de atendimento, como a telemedicina, que cresceu significativamente no período.

Equilíbrio e ajuda

Nesse cenário, o profissional de saúde precisa redobrar o cuidado com ele mesmo: estar atento à sua condição, considerar alertas de pessoas próximas sobre seu comportamento ou hábitos, como comer ou beber em demasia, e avaliar sempre se pode dar conta das demandas. “É preciso saber dizer não”, enfatiza a Dra. Patrícia.

Atividade física, dedicação a um hobby ou a algo prazeroso também são importantes. “Faço 10 horas de exercícios por semana com aulas virtuais de dança e iniciei um curso de arte pela internet”, conta a Dra. Patrícia, explicando a ‘receita’ que encontrou para aliviar o estresse.

Também é fundamental reconhecer as fragilidades e procurar ajuda de um psicólogo, psiquiatra ou um colega quando se sentir estressado ou esgotado.

A infectologista dá ainda um alerta importante: a contaminação dos profissionais de saúde geralmente não ocorre no atendimento, mas sim no momento de relaxamento, quando param para tomar um café, descansar um pouco e abaixam a guarda. “Não descuide nunca dos cuidados”, reforça.

Perspectivas

O início da vacinação trouxe novas perspectivas, mas o controle da pandemia depende de termos um elevado percentual da população imunizada. Um complicador é que ainda não se sabe por quanto tempo a vacina funciona. “Vamos ter redução do número de casos graves, que precisam de UTI, mas não dá para dispensar os cuidados. O distanciamento social e demais medidas, como uso de máscara e higienização das mãos continuarão sendo imprescindíveis por muito tempo. É preciso que cada um faça sua parte e mantenha as precauções necessárias”, diz a Dra. Patrícia.

Sem um tratamento efetivo para a COVID-19, uma das novidades é o Remdesivir, capaz de reduzir o período de internação em UTI em até cinco dias, o que ajuda no giro de leitos. O medicamento já foi aprovado pela Anvisa, mas ainda não está sendo aplicado no Brasil. Além disso, há estudos promissores, como os relacionados a anticorpos monoclonais e a um medicamento atualmente usado no tratamento de câncer. “Estamos revivendo o que aconteceu no surgimento do HIV. Ainda sabemos pouco sobre o novo coronavírus. Estamos estudando e tentando decifrar seu funcionamento para, enfim, ter uma resposta efetiva”, afirma a Dra. Patrícia.

A infectologista ressalta, ainda que, ao longo do tempo, praticamente todas as especialidades médicas serão envolvidas no tratamento das sequelas da doença, que são as mais diversas, como problemas cardiovasculares, perda muscular, danos neurológicos, desenvolvimento de diabetes e hipertensão, entre outros.

Esta crise sanitária tem trazido sofrimento e imensos desafios, mas, na visão da Dra. Patrícia, também aponta para oportunidades. “Apesar de tudo, devemos aproveitar as lições e novidades surgidas na pandemia, incorporando-as ao nosso dia a dia, como o teleatendimento, a interação entre profissionais, os estudos por meio da internet e os benefícios do distanciamento social.”

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