Transtornos ansiosos podem piorar outros quadros clínicos

Matérias Por Conexão Médicos - 09/03/23

Por isso, apesar de serem foco da Psiquiatria, é importante que médicos de outras especialidades observem a presença de distúrbios do gênero em seus pacientes. A negligência pode ter reflexos negativos também sobre outras condições clínicas.

Independentemente da especialidade, é importante que os médicos prestem atenção a eventuais sintomas de transtornos ansiosos em seus pacientes, tratando-os ou encaminhando-os a um especialista para essa finalidade. Segundo o Dr. Hewdy Lobo, psiquiatra credenciado da rede Amil, esse é um cuidado importante, pois, além do problema em si, distúrbios de ansiedade podem influenciar negativamente outros quadros clínicos.

“Suponhamos um paciente que vai tratar insônia ou dores musculares, mas tem também sintomas ansiosos. Se estes não forem tratados, esse paciente vai acabar necessitando de remédios para dormir ou analgésicos por mais tempo e em doses maiores e sem resolver os problemas de maneira plena”, exemplifica o Dr. Hewdy, a partir de dados da literatura confirmados pela sua experiência de consultório. “Indivíduos que recebem tratamento específico da ansiedade melhoram em outros aspectos da sua saúde, como controle da pressão arterial e do diabetes”, acrescenta ele.

Segundo o Dr. Hewdy, os transtornos ansiosos precisam ser encarados como uma comorbidade que pode ser o fator desencadeador de outras alterações, como dificuldade de controle da pressão arterial, ou de piora de estados de saúde, como aumento da dor nos quadros de fibromialgia.

A ansiedade pode ser um sintoma isolado, não constituindo uma doença em si. “Neste caso, ela é caracterizada por uma sensação incômoda, contínua e especialmente marcada por preocupações excessivas com fatos futuros sem que haja necessidade para tal”, explica o psiquiatra. Já nos transtornos ansiosos, a ansiedade aparece como um sintoma associado com outros, causando limitações, prejuízos e sofrimento aos pacientes. Entre os principais estão:

  • Transtorno de pânico: é caracterizado pelo medo constante de ter crises que podem ocorrer a qualquer momento, com sensação de falta de ar, de estar tendo um infarto ou derrame, de estar saindo do próprio corpo, de estranhamento do ambiente ou de que vai morrer. Geralmente, o diagnóstico demora porque os pacientes, nas primeiras crises, procuram prontos-socorros por temor de infarto e derrame, por exemplo. Daí a necessidade de plantonistas fazerem o encaminhamento para psiquiatras logo após descartarem os sintomas como de causa física.

  • Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): é a mais comum dentre todas as doenças ansiosas. É uma sensação contínua de preocupação e de desconforto emocional e físico. Há uma percepção errônea de que tudo está fora do controle em diversos âmbitos da vida (pessoal, familiar, profissional etc.).

  • Fobia específica: é o medo exagerado de um objeto, um animal ou de situações específicas, como altura ou ambientes fechados.

  • Transtorno obsessivo compulsivo (TOC): é caracterizado pela confluência de crises recorrentes de ideias, imagens e pensamentos obsessivos e compulsões, que muitas vezes redundam na realização de práticas repetidas de limpeza, checagem, organização e colecionismo.

  • Fobia social: temor ilógico e exagerado de estar sendo observado, avaliado e ridicularizado, recorrente em situações de exposição pública.

Detectando problemas

De acordo com o Dr. Hewdy, conhecimentos diagnósticos da psiquiatria podem ser aplicados por médicos de outras áreas. “Ao contrário de especialidades em que suspeitas de doenças só podem ser esclarecidas mediante a realização de exames, que às vezes são caros e demorados, na psiquiatria é possível abordar questões complexas apenas com o diálogo, ou seja, fazer investigações a partir de conversas e perguntas. Isso permite que os médicos em geral possam incluir na anamnese perguntas-chaves que os ajudarão a detectar eventuais transtornos de ansiedade”, afirma.

Dessa lista, podem constar questões como:

  • Você tem tido preocupações que você ou pessoas do seu convívio reconhecem como sendo exageradas?

  • Você tem sensações físicas ou emocionais de preocupação, angústia, insegurança, medo ou pavor que parecem ilógicas para amigos e/ou familiares?

  • Suas preocupações chegam a causar insônia, dor ou impactam de alguma forma sua qualidade de vida?

  • O Dr. Hewdy também ressalta que nem sempre os pacientes se referem à ansiedade e seus sintomas como uma doença. Por isso, segundo ele, é importante ficar atento a termos empregados por eles, como “nervosismo”, “impaciência”, “pressa exagerada”, “gastura” e outras expressões regionais que significam sensação desagradável.

A detecção de transtornos ansiosos é o primeiro passo para que os pacientes possam ser tratados adequadamente com psicoterapia (com apoio ou não de outros recursos da medicina), intervenções medicamentosas ou as duas formas combinadas. Acupuntura e homeopatia são recursos que podem ajudar no tratamento de quadros ansiosos, especialmente em pacientes que não aceitam ou são intolerantes a remédios psiquiátricos.

“É sempre melhor que um médico psiquiatra conduza o tratamento”, afirma o Dr. Hewdy. “Mas em regiões onde a pessoa não tenha acesso a esses profissionais, cabe aos médicos de outras especialidades tratar os casos de menor complexidade”, completa ele.

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