Tristeza e depressão não podem ser confundidas

Matérias Por Conexão Médicos - 09/03/23

Pessoas que enfrentam enfermidades mais graves ou complexas são mais suscetíveis a transtornos depressivos. Médicos que cuidam do paciente podem identificar sinais dessa doença psiquiátrica, que deve ser tratada como uma comorbidade.

Quadros de tristeza e desânimo em pacientes em tratamento de doenças complexas ou graves não devem ser negligenciados, nem encarados como algo compreensível e aceitável em função do contexto de seu surgimento. Os médicos precisam sempre considerar a possibilidade de depressão, fator clínico que merece intervenções terapêuticas à parte. Com alta prevalência, a depressão afeta cerca de 13% da população, sendo que pessoas que enfrentam doenças são mais susceptíveis.

“Ao não normalizar a depressão, médicos não vinculados à psiquiatria obtêm um melhor resultado nos tratamentos das suas especialidades, agregando benefícios para a saúde física e mental dos pacientes”, afirma o Dr. Hewdy Lobo, psiquiatra da rede credenciada Amil. Segundo ele, trata-se de estar atento e preparado para diferenciar a simples reação de tristeza de quadros depressivos. Para isso, os médicos podem incorporar na anamnese questões básicas da psiquiatria, como:

  • Você tem sintomas combinados de tristeza e desânimo, acompanhados de dificuldade de realizar tarefas cotidianas e desinteresse pela vida?

  • Seu estado emocional está impactando seus relacionamentos afetivos?

  • Tem percebido mudanças no seu padrão de apetite e/ou de sono?

  • Observa diminuição da sensação de prazer em relação às coisas que antes eram prazerosas para você?

A presença de alguns desses sintomas exige tratamento psiquiátrico específico. “A fronteira entre a tristeza esperada e natural da vivência humana e a tristeza doentia é que a primeira não é geradora de limitações, incapacidades e restrições funcionais. A tristeza doentia é acompanhada de outros sintomas e sempre causa limitações”, explica o Dr. Hewdy.

O ideal é que, além de continuar sendo acompanhado pelo médico que identificou o quadro depressivo, o paciente seja encaminhado para tratamento com psiquiatra. “Eu concordo que não psiquiatras possam dar início ao tratamento até ser atendido pelo especialista, para ganho de tempo, pois os psicofármacos demoram em média duas semanas para início do efeito. Mas, nem mesmo quadros leves e moderados podem deixar de ser tratados por falta de acesso a profissionais da psiquiatria”, alerta o Dr. Hewdy.

Ele lembra que pacientes sem intervenções psiquiátricas adequadas podem ter complicações do quadro clínico, como alterações do apetite e de peso e problemas no sono, entre eles a chamada insônia final, em que o indivíduo acorda mais cedo do que o habitual e sem a sensação do repouso. A depressão também afeta o interesse e o desempenho sexual.

“Além disso, pessoas com depressão tornam-se menos produtivas, tendem a ter mais complicações na gestão da vida afetiva e pessoal e podem sofrer com piora de quadros envolvendo dor e dificuldade de controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes”, cita o especialista, destacando que a depressão pode tornar-se um agente ativo em uma cadeia negativa, que pode resultar em infarto agudo do miocárdio ou derrame. “É preciso considerar também o desfecho mais grave de todos, que é o suicídio”, acrescenta.

Tratando a depressão

O tratamento da depressão varia de acordo com sua intensidade:

  • Intensidade leve: esses casos podem ser muito bem tratados apenas como psicoterapia, geralmente de curta duração (de três a seis meses).

  • Intensidade moderada: além da psicoterapia, quadros moderados já exigem o emprego de medicamentos. A associação desses dois recursos (psicoterapia e medicamentos) propícia resultados mais rápidos e melhores. A psicoterapia possibilita ainda dosagens mais baixas e menos tempo de uso dos remédios, além de prevenir novas crises após a alta.

  • Intensidade grave: casos mais severos podem exigir internação médica com o objetivo de estabilizar o quadro clínico. É dada continuidade ao tratamento por via medicamentosa e psicoterapêutica.

Frente a todos os tipos, fica o alerta do Dr. Hewdy: “médicos, lembrem-se da possibilidade da existência da depressão. Perguntas básicas sobre ela ajudam a detectá-la precocemente e prevenir incapacitações e suicídio”.

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