Muito prazer, Dr. José Tadeu Stockler

Perfil Por Conexão Médicos - 23/04/24

Orgulhoso representante das antigas gerações de pediatras formados pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o Dr. José Tadeu vai comemorar este ano o cinquentenário de seu consultório, onde cultiva um relacionamento humano e próximo com a clientela, inclusive com seu celular à disposição dos pais e mães para ligarem a qualquer hora. Mas isso não significa ser um escravo da profissão. Leitura, viagens e carros são algumas paixões fora da rotina médica. Confira a entrevista.

Por que optou por se especializar em Pediatria?

Primeiro, porque gosto de clínica. Jamais faria uma atividade que não tivesse interação com os pacientes. Na clínica cirúrgica até existe interação, mas não há permanência. O paciente tem uma doença, é operado, resolveu e ponto final. Na minha jornada de 50 anos de Pediatria, sou até padrinho de casamento de alguns clientes meus. Sou pediatra de netos e bisnetos de clientes. Eles ligam no meu aniversário, no Natal e Ano Novo. Essa característica da minha especialidade é fantástica. Não existe outra especialidade que traga essa interação.

Quer dizer que a Pediatria sempre esteve comprometida com a medicina humanizada?

Exatamente. A criança é um ser em desenvolvimento, que traz uma nova faceta em cada abordagem. Primeiro, a criança vem e está mamando. Depois, está sentando. Da próxima vez, a mãe comenta: “nasceu o dentinho”. E assim vai: “Nossa, doutor, ficou de pé”; “Agora está andando”; “Entrou no fundamental”; “Já está no ensino médio”. “Vai prestar vestibular para Medicina”. Quer dizer, você vê alguém crescendo e participa da vida da família.

O que mudou na Pediatria ao longo dos seus anos como médico?

Para começar, não cresceu o número de pediatras junto com o número de médicos. Vejo também que as especialidades que demandam maior presença do médico estão sendo menos procuradas. Há uma busca por especialidades que tenham melhor retorno financeiro e permitam maior controle do tempo do profissional. Para um pediatra, isso é diferente. Tem mãe que me liga às duas horas da manhã porque o nariz do bebê está escorrendo. Mesmo quando estou no exterior em uma viagem de lazer, eu atendo os clientes que ligam. Se não for assim, não tem clientela. Imagine uma mãe com um bebê de 10 dias, que foi ao meu consultório há três dias, e de repente a criança engasga. Se ela não tiver como falar comigo, vai procurar outro pediatra. A Pediatria precisa ter essa humanização e proximidade com as pessoas.

Você também atende adolescentes, ou seja atua como hebiatra, uma especialidade reconhecida pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Qual a faixa etária de um indivíduo considerado adolescente?

Não existe um consenso absolutamente rigoroso, apesar de a Resolução do Conselho Federam de Medicina (CFM) de 2002 incluir o adolescente como parte do exercício da Pediatria. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência seria dos 10 aos 19 anos. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, dos 12 aos 18 anos. Publicações importantes consideram adolescentes jovens até 21 ou 24 anos. Ou seja, a caracterização dessa fase tão importante da vida é muito diversificada. Os pais de adolescentes, ansiosos e desorientados, não sabem a quem recorrer: clínicos, cardiologistas, endocrinologistas... Acredito ser de vital importância o acompanhamento e atenção pediátrica (e hebiátrica) durante essa fase da vida.  

Por que decidiu aprofundar seus estudos em infectologia?

As doenças infecciosas são praticamente 70% da nossa clínica. Por isso fiz uma especialização lato sensu na área. E agora, mesmo com a minha idade, estou de olho numa nova especialização: nutrição infantil.

Quais os principais problemas que levam os pacientes a procurá-lo?

Divido em dois grandes grupos. Há os que vão ao consultório para acompanhamento clínico, isto é, ver se estão crescendo, se alimentando… O outro grupo são as consultas não eletivas, para tratar a febre de um quadro infeccioso, dor de garganta, pneumonia e coisas assim.

Que diferenciais considera importantes no atendimento dos seus pacientes?

A atenção plena a cada paciente. A minha esposa é quem administra a clínica, e a primeira coisa que ela faz quando chega um cliente é dar o número do meu celular. Eu chego na sala de espera, cheia de brinquedos, e sento no chão com as crianças. Pego bebê no colo, converso com as crianças. O diferencial é uma medicina humanizada. Tratar uma dor de garanta ou uma febre qualquer um faz. Mas o que adianta o médico dar um antibiótico se ele nem olha para o paciente ou sabe o seu nome?

Tem algum marco especial em sua carreira?

Meus estudos na Santa Casa. Quando me formei, fiz um internato na Santa Casa e depois prestei exames para a especialização. Como que era o processo? Primeiro você tinha de fazer uma prova escrita. Segundo, uma prova oral. Número três, tinha de ter um trabalho publicado em uma revista de circulação nacional. Número quatro, você tinha de ter uma carta de apresentação de professores eméritos indicando seu nome para a especialidade. Todo esse ciclo foi um momento muito feliz na minha carreira. O Dr. Kalil Farah, que foi pediatra dos meus filhos, fez uma indicação fantástica para a Sociedade Brasileira de Pediatria reconhecendo meu valor profissional. O professor Jayme Murahovschi também me recomendou. A prova foi um sucesso. O colega que conduziu o exame prático, quando examinei uma criança no ambulatório, me abraçou. Esse foi um momento muito bom na minha vida. Outro destaque foi em 1974, quando montei meu consultório, que vai fazer 50 anos em setembro.

Qual seu segredo para relaxar e manter uma vida saudável?

Viajo muito. Para o exterior, pelo menos duas vezes por ano. Também é comum eu e minha mulher sairmos do consultório na sexta à noite e pegar o carro para viajarmos. Gosto muito de ir para Serra Negra e também para o Rio de Janeiro. Tenho um apartamento no 21º andar na Barra da Tijuca, de frente para o mar. Saio sexta-feira à noite, vou para o Rio e volto na segunda. Viajo e relaxo mesmo. Não sou um escravo da profissão. Além disso, eu ando bastante. Frequentemente, nos fins de semana, saio cedo com minha esposa e andamos 5 quilômetros. Também faço academia pelo menos três vezes por semana. Adoro atividade física.

Pode contar uma curiosidade sobre você que poucos conhecem?

Adoro carros. Já tive 38 automóveis. Sou um trocador de carros. Também não perco essas feiras de carros antigos. Fui duas vezes para Las Vegas só para ver feiras do gênero.

Tem um filme preferido?

Não sou de cinema. Faz uns 20 anos que não vou. Mas eu e minha esposa gostamos de teatro. Já vimos muitas coisas interessantes, com muita gente boa nos palcos, como Francisco Cuoco, Antônio Fagundes, Fernanda Montenegro e, mais antigamente, Maria Della Costa.

E livro?

Adoro ler. Leio uns 20 livros por ano. E sou um comprador compulsivo de livros. Enquanto estou lendo um livro, já têm dois na estante esperando para serem lidos. Onde eu for, levo um livro. Gosto de literatura americana e já li todos os nossos clássicos. Às vezes, tenho até dificuldade de achar boas coisas novas para ler. Gosto de frequentar sebos para encontrar livros raros, mas não é fácil. Entro no lugar, e o vendedor vem me mostrar um título ou outro. Eu olho e respondo: “esse já li”. Ele pega outro, destacando que foi editado em 1952, e eu digo: “também já li”. É até engraçado.

Que tipo de música prefere?

Gosto de MPB e músicas da minha época.

Qual foi sua melhor viagem?

Difícil dizer porque já viajei bastante. Mas podemos dividir viagens em três grandes grupos: a que você não gostou, a que você gostou mas não quer voltar outra vez e a que você quer voltar muitas vezes. Do primeiro grupo, juro que não lembro uma viagem da qual não tenha gostado. Em lugares aos quais fui e não volto mais, colocaria alguns países islâmicos que visitei. São países interessantes, bonitos, mas as regras islâmicas são complicadas para um turista. Quanto ao que vale a pena voltar, é o primeiro mundo. Canadá é o primeiro país que me vem à cabeça. Além dele, Dinamarca e os Países Baixos, países com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) altíssimos.

Tem um sonho de consumo?

Não. Tenho patrimônio adequado aos meus rendimentos. Tenho terrenos, imóveis e troco de carro praticamente a cada ano e meio. Graças a Deus, minha profissão me deu tudo do ponto de vista financeiro e familiar.

Quais características mais admira em uma pessoa?

Primeiro, respeito ao próximo. Bondade também é importante, mas com cuidado para não ser subserviente. E inteligência, com atenção para não ser pedante.

Qual característica própria mais valoriza?

Perseverança, luto para atingir minhas metas.

Tem algum ídolo?

O irmão da minha mãe, o Dr. Horácio Cardoso Franco, que foi um dos maiores clínicos que conheci. Além de professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi deputado estadual e federal. Também não posso deixar de destacar a centralidade que minha família tem na minha vida. São 54 anos de casado, e devo tudo à minha esposa. Tenho uma filha pediatra, neonatologista; e um filho médico veterinário, que mora há 22 anos nos Estados Unidos. Em abril, ele e mais nove médicos veterinários foram eleitos para o Conselho Federal de Animais de Grande Porte. Eles foram considerados os 10 melhores médicos veterinários dos Estados Unidos nessa área.

Se não fosse médico, seria o que?

Trazendo para o contexto atual, seria engenheiro de computação. Tivemos grandes mudanças no mundo de hoje, muitas das quais estão atreladas ao desenvolvimento das tecnologias de informação e computação.

 

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