Muito prazer, Dr. Marcelo Piquet Carneiro Pessôa dos Santos

Perfil Por Conexão Médicos - 19/01/24

Além de parte do sobrenome, o Dr. Marcelo herdou do notório avô Américo Piquet Carneiro o gosto pela medicina. Carioca, graduou-se em 1994 pela Universidade Federal Fluminense e especializou-se em Psiquiatria na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde também fez mestrado e doutorado e atua como pesquisador do Programa de Ansiedade, Obsessões e Compulsões do Instituto de Psiquiatria. Nesta entrevista, ele fala de suas atividades profissionais, da importância do humanismo na relação com os pacientes e também conta curiosidades, como o fato de ser motociclista e músico. Confira.

Por que optou por se especializar em Psiquiatria?

Comecei sendo influenciado pelo meu avô médico, Américo Piquet Carneiro, que foi professor catedrático de Medicina Clínica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na época do vestibular, fique em dúvida entre Psicologia e Medicina. Foi meu avô quem disse para eu fazer Medicina e que, se gostasse da área, deveria fazer Psiquiatria. Durante muitos anos a Psiquiatria foi uma especialidade menos importante. Mas eu sempre tive a visão de que era uma área que precisava de bons cérebros para ajudar a desenvolvê-la. Não sei se foi por alguma espécie de compaixão pelas dores que os pacientes psiquiátricos sentem, mas fui me aproximando cada vez mais dessa área. Comecei a estudar Psiquiatria e nunca mais parei. Além das atividades na Clínica Espaço Village, da qual sou diretor médico, me mantenho sempre atualizado, estudando e participando de congressos. Também atuo como pesquisador no Instituto de Psiquiatria de Universidade Federal do Rio de Janeiro. A linha de pesquisa envolve  transtornos de uso de substâncias (álcool e outras drogas) e sua relação com outros transtornos impulsivo-compulsivos e obsessivos-compulsivos, como TOC, skin picking, cleptomania, jogo compulsivo e transtornos alimentares, entre outros.
 

Quais os principais problemas que levam os pacientes a procurá-lo?

Na população mundial, as patologias mais prevalentes são as associadas a depressão e ansiedade. São tão prevalentes quanto diabetes e hipertensão. Cerca de 30% da população vai ter, em algum momento da vida, algum sintoma de depressão ou ansiedade. Depois vêm os transtornos psicóticos e o transtorno bipolar, que atinge hoje 15% da população brasileira. São frequentes, ainda, os transtornos de álcool e droga, afetando 8% da população. Também estão ficando comuns diagnósticos que não existiam até pouco tempo, associados a comportamentos excessivos, como dependência de jogos, videogames, pornografia na internet e apostas, que vêm impactando principalmente os mais jovens. São comportamentos compulsivos, que além de álcool e droga, envolvem compras, sexo, comida (anorexia e bulimia), conformando aquilo que chamamos de ‘era da compulsão’ (leia Comportamentos excessivos crescem entre jovens e adolescentes). Outro transtorno, este mais comum em meninas, é a automutilação, que alcançou uma dimensão que não havia na época da minha formação. Muitas vezes, adolescentes e jovens postam essas práticas nas redes sociais, que acabaram se tornando canais amplificadores desse fenômeno. Neste caso, estamos no campo dos transtornos de personalidade borderline.

Que diferenciais considera importantes no atendimento dos seus pacientes?

Minha formação, com residência, mestrado e o doutorado que defendi em setembro de 2023, é um diferencial. Todos os conhecimentos, ferramentas e habilidades que essa formação propicia nos torna mais aptos a ajudar os pacientes. Mas também destaco algo que vale para todas as especialidades: sem um atendimento humanizado, não temos sucesso. O resultado de qualquer tipo de tratamento, seja clínico, oncológico, endocrinológico ou psiquiátrico, por exemplo, é sempre impactado por um bom relacionamento entre médico e paciente. O paciente sente quando o médico se interessa realmente pelo seu caso. Além de uma boa formação, os médicos precisam valorizar aspectos humanos, o que envolve seu jeito de receber, atender e explicar o que precisa ser explicado para os pacientes.

Tem algum marco especial em sua carreira?

Elejo dois grandes marcos. O primeiro foi a residência, que tive a chance de fazer no Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Essa foi a primeira vez que tive contato com grandes professores da minha área. O segundo foi meu doutorado sobre álcool, feito em um laboratório que estuda comportamentos compulsivos em geral. Depois da residência, fiquei uns 10 anos no mercado trabalhando em várias coisas e criando filhos. Depois, voltei à universidade e, nos últimos seis anos, fiz mestrado e doutorado. A conclusão do doutorado foi modificadora de paradigmas.  

Qual seu segredo para relaxar e manter uma vida saudável?

Exercícios físicos e relações familiares bem cuidadas. No que diz respeito aos esportes, pedalo, nado, faço academia, mantendo uma rotina diária de atividades físicas. Isso ajuda muito no meu dia a dia.

Pode contar uma curiosidade sobre você que poucos conhecem? 

Eu tenho alguns hobbies. Por exemplo, sou motociclista e viajo de moto quando posso. Já fui para Bolívia e Argentina. Também sou músico. Toco cavaquinho e guitarra, navegando em vários estilos musicais.

Tem um filme preferido?

Tenho vários. Sou um cinéfilo. Vi recentemente Clube da Luta, um filme que se tornou cult. Conta a história de uma pessoa com transtorno de personalidade. Psiquiatra adora esses personagens (risos). Gosto também de filmes de psicopatas e crimes, tipo O Poderoso Chefão.

E livro?

Um dos meus prediletos é o Selfish Gene. Em português, foi traduzido como O Gene Egoísta. É um livro do biólogo britânico Richard Dawkins que trata a evolução humana do ponto de vista do gene e não dos indivíduos. É uma obra que causou muita reflexão por mostrar um paradigma da vida sobre o qual não estamos muito acostumados a pensar. Por exemplo, por que o jovem, a partir de mudanças hormonais, fica mais impulsivo e propenso a transgressões? O livro mostra que os genes determinam isso. Por quê? Porque a natureza quer que, de alguma forma, percamos o controle para nos reproduzir. Os genes fazem o que querem de nós. 

Que tipo de música prefere?

Ouço de MPB e bossa nova a hip hop. Da MPB, por exemplo, gosto de artistas consagrados, como Chico Buarque, Caetano, Gil, Luiz Melodia e Jorge Ben. E sou daqueles que vai a shows. Gosto de todas as bandas de rock. Do hip hop, curto o Dr. Dre. Gosto de tudo. 

Qual foi sua melhor viagem?

As melhores viagens são sempre as que faço com a família – eu, minha esposa e meus filhos. Já fomos várias vezes para a Europa, daquelas viagens culturais para visitar castelos, museus e exposições de arte. Aprecio muito esse tipo de viagem. Das viagens profissionais, destacaria uma que fiz para Genebra, onde apresentei pela primeira vez um trabalho em um evento internacional. 

Tem um sonho de consumo?

Meu sonho de consumo são as motos que eu tenho. Não tenho muito além disso, não. 

Quais características mais admira em uma pessoa? 

Transparência, honestidade, integridade, afetividade e inteligência. Senso de humor também. 

Qual qualidade própria mais valoriza?

Sou um indivíduo honesto, correto e me preocupo em ajudar os outros. Sou também uma pessoa leal, afetiva, de família. E me considero uma pessoa razoavelmente inteligente. 

Tem algum ídolo? 

Meu avô que era médico. Ele era tio-avô da mãe do Nelson Piquet.

Se não fosse médico, o que seria?

Seria músico, sem dúvida nenhuma. Tocaria MPB. 

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