Muito prazer, Dra. Ana Lúcia Mello de Carvalho

Perfil Por Conexão Médicos - 03/04/24

Formada pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, a Dra. Ana Lúcia especializou-se em Neurocirurgia em 1994, época em que as mulheres eram apenas 2% dos profissionais da área. Hoje são 12%. Subespecializada em Neuro-oncologia, atua na retaguarda da Amil nos hospitais Albert Einstein e Paulistano, é responsável pela neurocirurgia oncológica dos Hospitais do Mandaqui e do Servidor Público, onde também coordena a residência na área, e membro da Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Nesta entrevista, ela fala sobre as atividades profissionais e também sobre fatos que poucos conhecem, como ser mergulhadora. Confira.

Por que optou por se especializar em Neurocirurgia?
Desde o início da faculdade eu gostava de Neuroanatomia e Neurologia. Quando chegou o internato, descobri que queria cirurgia. Não queria nada clínico, pois a Neurologia não me dava todas as respostas ou os desfechos que queria. Descobri meu caminho unindo Neurologia com Cirurgia. Na época, nem prestei atenção ao fato de a área ter poucas mulheres. Foi só nos processos seletivos que fui me dando conta dessa realidade. Quando alguém me indagava sobre minha escolha, eu dizia que era a minha opção. Não tinha nada a ver com gênero.

Essa ainda é uma especialidade na qual as mulheres são minoria?
Quando fiz minha especialização, éramos 2% do contingente de neurocirurgiões do país. Hoje somos 12%, segundo o último censo da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Trata-se de um número ainda muito baixo, evidenciando que esse meio ainda é muito masculino. A fim de ajudar a mudar esse quadro, participo da Comissão das Mulheres Neurocirurgiãs da SBN, núcleo que visa incentivar a presença das mulheres em congressos e atividades científicas e mesmo dentro da SBN. Além disso, é dedicado ao acolhimento e resolução de qualquer tipo de questão que uma residente ou mesmo uma profissional formada tenha em relação a assuntos como assédio, discriminação, diferenças salariais ou de cargos. Trabalhamos em prol da igualdade de gênero dentro da nossa especialidade.

Quais os principais problemas que levam os pacientes a procurá-la?
Como me subespecializei em Neuro-oncologia, atendo um volume grande de pacientes com tumores. Além disso, atendo muitas patologias de coluna, que se tornaram mais comuns hoje por conta da obesidade, do sedentarismo e do envelhecimento da população. Às vezes também recebo casos de hidrocefalias de pressão normal ou não, lesões na hipófise e aneurismas, entre outras doenças.

Que diferenciais considera importantes no atendimento dos seus pacientes?
É preciso saber escutar os pacientes e também seus familiares. Cada pessoa em tratamento e seus parentes têm demandas muito específicas, que precisam ser ouvidas, acolhidas e resolvidas da melhor forma possível. Isso vale para todos os que estiverem envolvidos com aquela patologia. Lido com doenças que muitas vezes são graves e envolvem debilidades que podem ser transitórias ou não. Essa realidade gera mudanças na dinâmica familiar, quase sempre desencadeando muito estresse. Por isso, precisamos entender o contexto dessas pessoas, ajudá-las a compreender o momento que estão vivendo, como tudo isso pode evoluir e como podemos melhor solucionar cada um dos problemas.

Tem algum marco especial em sua carreira?
Como gosto muito de dar aula e participar do processo de formação de novos médicos, considero o início das minhas atividades como coordenadora da residência em Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público um momento muito especial da minha carreira.

Qual seu segredo para relaxar e manter uma vida saudável?
Passar tempo com minha família e também com meus amigos e amigas. Com elas gosto muito de viajar, ir a shows, teatro e cinema, que eu adoro. Também gosto de mergulhar. No mundo do mergulho autônomo, sou uma divemaster, nível de certificação que me autoriza a atuar como supervisora de mergulho, guiando outros mergulhadores.  

Pode contar uma curiosidade sobre você que poucos conhecem?
Eu quase fui geóloga. Cheguei a fazer vestibular e estudar um semestre na Universidade de São Paulo, mas depois vi que não era para mim.

Tem um filme preferido?
Star Wars. Tornei-me até uma influenciadora de gerações, fazendo meus filhos e amigos deles gostarem da franquia. Gosto muito de ficção científica.  

E livro?
Tenho uma série de livros prediletos. Gosto desde clássicos, como Gonçalves Dias, a títulos contemporâneos, a exemplo de Normal People (de Sally Rooney), da série Duna (de Frank Herbert) e um livro chamado Uma Vida Pequena (de Haya Yanagihara). Não posso deixar de fora também os livros do Mia Couto, autor moçambicano.

Que tipo de música prefere?
O rock nacional dos anos 80. Adoro Legião Urbana, Capital Inicial e Skank.

Qual foi sua melhor viagem?
Foi minha viagem de lua de mel ao Havaí.  Mas teve também uma viagem à Itália com filhos e marido. Além disso, acho Fernando de Noronha um dos lugares mais maravilhosos do mundo.

Tem um sonho de consumo?
Viajar para as Maldivas.  

Quais características mais admira em uma pessoa?
Honestidade, com certeza.

Qual característica própria mais valoriza?
Sou uma pessoa extremamente positiva. Acho sempre que podemos achar um jeito para fazer as coisas darem certo. Sou uma pessoa feliz.

Tem algum ídolo?
Minha mãe, que sempre me deu o suporte e o incentivo necessários em todos os momentos da minha vida, inclusive quando decidi ser neurocirurgiã. Algumas pessoas falavam para eu reconsiderar e pensar em outras especialidades. Ela não. Ela sempre me encorajou a seguir adiante.

Audio file

Posts relacionados

Ver mais
.