Muito prazer, Dr. Paulo Magno Martins Dourado

Perfil Por Conexão Médicos - 09/03/23

Cardiologista com doutorado e pós-doutorado pela USP, o Dr. Paulo fez dos cuidados da saúde do coração uma missão de vida à qual se dedica há quase quatro décadas. Mas encontra tempo para manter-se em forma, curtir óperas e filmes, além de ser um leitor voraz.

Cardiologista com especialização em ecocardiografia, o Dr. Paulo Magno Dourado é uma referência nessa área – posição que começou a ser construída há cerca de duas décadas com a pesquisa experimental realizada no InCor que lhe rendeu o prêmio Josef Feher de Jovem Cardiologista, concedido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Seu trabalho foi um marco ao comprovar a eficácia da técnica de perfusão em tempo real com contraste em exame de ecocardiografia para identificar, com uma precisão de mais de 95%, áreas do coração que podem ser recuperadas após um infarto, evitando, em muitos casos, a indicação do cateterismo. Ele segue se dedicando à pesquisa, conciliando com seu trabalho na Clínica de Cardiologia Preventiva Pró-Coração, da qual é diretor médico. Mesmo com a rotina profissional intensa, abre espaço na agenda para atividades culturais e de lazer. Além disso, pratica corrida ou caminhada regularmente, marcando pontos para a sua saúde e boa forma. Segundo ele, o peso e as medidas são os mesmos de quando jovem, um bom exemplo para seus pacientes. Confira a entrevista.

Em que ano se formou?

1984, na Universidade Federal da Bahia.

Onde nasceu?

Em Guiratinga, no Mato Grosso. Mas ao longo dos anos morei em Goiânia, Brasília e na Bahia, onde fui estudar Medicina. Após me formar, casei e vim para São Paulo.

Por que se tornou médico?

Acho que é uma vocação que vem desde a infância, despertada pelo fato de conviver com vários médicos na família. Já a cardiologia foi um interesse despertado na faculdade. E a saga continua. Os filhos estão seguindo meus passos. Minha filha é especialista em cardiologia da mulher e meu filho mais novo, que está fazendo residência na área clínica, também já decidiu pela cardiologia.

Como enxerga o mercado e a profissão de médico atualmente?

É complexo. Temos muitas novas tecnologias, como a telemedicina, que é uma mudança positiva. Por outro lado, há falta de experiência clínica nos jovens. A avaliação médica não pode ser automática, precisa ser mais direcionada aos sintomas, ouvindo mais o paciente. Outro ponto é que ampliaram a quantidade de faculdades, mas as residências não acompanharam o crescimento, gerando mais médicos generalistas e poucos especialistas. Muitos casos podem ser resolvidos em uma consulta com um clínico geral, contudo já há uma lacuna de especialistas.

Qual o seu desafio diário?

Um grande desafio do médico é conciliar conhecimento científico com prática assistencial. Além disso, é importante gerar avanço científico e tecnológico que traga benefício para a sociedade. O ideal seria implantar no Brasil o modelo de institutos privados de pesquisa patrocinados por empresas.

Pode contar uma curiosidade sobre você que poucos conhecem?

Uma curiosidade é meu trabalho com pesquisa experimental, que envolve ratinhos e camundongos, sempre buscando avanços na área de ecocardiografia e doença arterial coronária. Outro fato interessante é sobre uma pesquisa do InCor, da qual participei, que comprovou os benefícios do vinho na proteção da doença cardiovascular. Para quem não tem contraindicação ao álcool, a recomendação é ingerir diariamente entre uma e duas taças de vinho tinto.

Qual característica mais admira em uma pessoa?

A honestidade é a maior de todas as virtudes, um princípio que nunca deve ser transgredido.

E o que mais abomina?

Desonestidade, usar subterfúgios para conseguir as coisas sem merecimento e não valorizar pessoas dedicadas.

Mudaria algo na sua personalidade?

Estou feliz com minha personalidade. A vivência traz aprendizado e maturidade e procuro sempre melhorar, ser mais tolerante, respeitar os valores e as diferenças. Se conseguirmos ser mais maleáveis, seremos melhores. Como médico, além de tratar a doença, procuro ajudar no equilíbrio emocional do paciente.

Tem um livro preferido?

Sou um leitor voraz, leio biografias, obras ficcionais, sobre vinhos, viagens, óperas, autores consagrados e novos autores e tudo o que me interessa. Durante a quarentena, li Guerra e Paz, de Tolstói. Admiro profundamente Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Clarice Lispector e sempre releio suas obras. Além de Pedro Nava, Luiz Fernando Veríssimo e Autran Dourado, que era da minha família.

E filme, algum favorito?

Gosto muito da trilogia O Poderoso Chefão. Em casa, também assistimos toda a saga Harry Potter com os filhos desde que eram crianças e isso criou uma ligação emocional, uma lembrança muito feliz. Além disso, gosto de séries. É outro momento de reunião familiar. Algumas acompanhamos por episódio, como Game of Thrones. Reservávamos a noite para assistir e comentar sobre o que aconteceria, quem morreria... Agora estamos vendo The Crown, sobre a família real britânica.

Que tipo de música prefere?

Mesclo o passado com o presente. Gosto muito de fado e tango, além de MPB e pop internacional. Gosto muito do Belchior, Leonard Cohen e Bob Dylan. Suas músicas falam de emoção e isso faz bem ao coração. Também sou um apreciador de óperas.

Tem um sonho de consumo?

Tenho o sonho de construir um centro de pesquisa em cardiologia, como existe nos Estados Unidos e em outros países, para desenvolvermos estudos tendo por base a população brasileira, que diverge das demais devido à miscigenação e ao estilo de vida.

Pratica esportes?

Faço caminhada ou corrida de 45 a 60 minutos pelo menos três vezes por semana. Mantenho o mesmo peso e as mesmas medidas de quando jovem

O que não pode faltar na sua geladeira?

Em casa, somos muito naturalistas, então não podem faltar verduras, legumes, frutas, sucos naturais, queijos... Também temos duas adegas muito bem abastecidas com vários tipos de vinhos que ganho ou compro.

Tem algum ídolo?

Admiro muito o professor Adib Jatene, com quem tive a oportunidade de trabalhar. Entre os aprendizados que guardo, está a orientação dele de que o médico tem sempre de levar esperança ao paciente, ter compaixão. Destaco, ainda, o professor Euryclides de Jesus Zerbini. Foi um ser extraordinário e deixou um grande legado, como a fundação do Incor e a lição de combinar ciência e humanismo. Também admiro grandes personagens humanitários, como Irmã Dulce e Mahatma Gandhi.

Qual foi sua melhor viagem?

Viajar é uma experiência que amadurece e ensina muito. Viajávamos com frequência até a pandemia. Já fomos para os Estados Unidos e vários países europeus. Uma experiência surpreendente foi a viagem que fizemos para Austrália e Nova Zelândia. Também foi muito interessante conhecer a África do Sul e países da América Latina, como Chile e Uruguai, que são locais extraordinários.

Se não fosse médico, o que seria?

Eu gostaria de ser fazendeiro, pois cresci nesse ambiente e minha família é de fazendeiros. Gosto muito dessa convivência, da vida simples, de estar em contato direto com a natureza e de cuidar dos negócios da fazenda.

Qual recado daria a um estudante de Medicina?

Não ficar disperso e focar. Há muitas opções atrativas, o que contribui para perder o foco e deixar de identificar as oportunidades. Não adianta querer dominar tudo, porque nunca terá a bagagem de conhecimento necessária. É preciso direcionar a carreira e ter um conhecimento aprofundado da área de interesse

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